domingo, 24 de janeiro de 2016



PATRIMÔNIO

Vila Velha, um lugar esquecido em Itamaracá

Moradores e visitantes sentem falta de mais atrativos para segurar o turista no lugar



Povoado foi elevado à condição de vila, oficialmente, em 21 de janeiro de 1535 / Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Povoado foi elevado à condição de vila, oficialmente, em 21 de janeiro de 1535

Foto: Bobby Fabisak/JC Imagem

Uma das vilas mais antigas do Nordeste brasileiro completou 481 anos quinta-feira passada (21) em completo esquecimento. Localizada na Ilha de Itamaracá, no Grande Recife, Vila Velha tem suas origens no início da colonização brasileira. E essa história, de acordo com pesquisadores, ainda precisa ser melhor estudada.
A área hoje habitada por cerca de 500 pessoas já era um lugar de moradia em 1528 quando foi fundada a Feitoria de Itamaracá, afirma Tácito Galvão, pesquisador do Instituto Arqueológico, Histórico e Geográfico Pernambucano (IAHGP). Mas, só em 21 de janeiro de 1535 o povoado foi elevado à condição de vila, com governador (Pero Lopes de Sousa), ouvidor, almoxarife e feitor.
Vila Velha, observa o arqueólogo Ulisses Pernambucano, era fortificada no passado, antes mesmo da presença holandesa no País (1630-1654). Pesquisas arqueológicas realizadas pela Fundação do Patrimônio Histórico e Artístico de Pernambuco (Fundarpe), anos atrás, localizaram a fortificação, diz ele. “Também havia salinas, onde se fazia sal, e fornos de cal”, acrescenta.
Dos fornos construídos nos séculos 18 e 19, restam poucos exemplares. “A produção se estendeu até o século 20”, declara Ulisses, destacando a importância da indústria. A cal era usada na construção civil como argamassa (misturada com areia ou barro) e reboco de parede, como tinta e jogada sobre sepultamentos para apressar a decomposição do corpo, detalha o arqueólogo.
Na antiga Vila de Nossa Senhora da Conceição, sede da Capitania de Itamaracá no século 16, havia uma Casa de Câmara e Cadeia, um hospital da Santa Casa de Misericórdia, a casa do vigário e a Igreja de Nossa Senhora do Rosário dos Homens Pretos (sobraram as ruínas ao lado do cemitério, ainda em funcionamento), entre outras edificações, enumera Tácito Galvão.
“A primeira invasão francesa no Brasil aconteceu em Vila Velha, em 1531. Não se fala muito sobre isso”, diz Galvão. Eles estavam em busca de pau-brasil e animais, que conseguiam com os indígenas em troca de tecidos e espelhos, para comercializar na Europa, informa o pesquisador. “Se não tivessem sido expulsos pelos portugueses, Vila Velha seria francesa”, comenta.
Morador de Vila Velha há cinco anos, o pesquisador inglês Christopher Sellars diz que há documentos na Torre do Tombo, em Portugal, comprovando moradia no lugar em 1526. “O padre português Francisco Garcia falava em missa na Igreja de Nossa Senhora da Conceição naquele ano. Mas há indícios de uma comunidade portuguesa instalada antes da chegada de Cabral, em 1500”, declara.
Uma placa de sinalização na estrada de acesso apresenta o local como vila desde 1516, há exatos 500 anos. Tácito Galvão questiona a data. “Como povoado, o lugar existia. Vila indica que há uma administração e o rei Dom João III só fez a doação das terras a Pero Lopes de Sousa em 1º de setembro de 1534. E a Câmara registra em ata em 21 de janeiro de 1535”, detalha.
Boleira e tapioqueira, Idalice Batista dos Santos mora em Vila Velha desde que nasceu, há 61 anos. Ela tem um quiosque junto da Igreja de Nossa Senhora da Conceição e comenta que poucos investimentos foram realizados na área. “Temos energia elétrica, água encanada, meios de comunicação e posto de saúde. Quando eu era menina, nada disso existia, a gente pegava água em balde, subindo e descendo ladeira”, lembra.
Idalice afirma que a vila é carente de transporte público e de infraestrutura para receber os visitantes. “Seria muito bom um chafariz para refrescar as pessoas nesse calor”, sugere. “O ônibus que nos atende é de um particular, que chega aqui às 7h e retorna às 11h. Fora desse horário, quem não pode pagar um táxi, vai andando a pé pela trilha dos holandeses, que liga Vila Velha ao Forte Orange”, declara.
Filha de pernambucana e moradora de Brasília, Loyane Ferreira de Araújo Bernardes visitou Vila Velha pela primeira vez, em janeiro de 2016. “É um lugar muito interessante e a paisagem é belíssima, mas falta algo que prenda o turista por mais tempo no lugar”, diz.
Informalmente, o morador Cleyton José de Santana atua como guia, levando visitantes para conhecer as ruínas da igreja, o forno da cal e a trilha dos holandeses. Ele pode ser acionado pelo telefone (81) 98914-2448. Vila Velha fica a seis quilômetros da principal rodovia da ilha, a PE-35

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