quinta-feira, 18 de fevereiro de 2016



Zona Norte

Em morro de Nova Descoberta, no Recife, ninguém escapa da chicungunha



Subida José Correia é um paraíso para o Aedes, com muito lixo e moradores desprotegidos / Fotos: Mariana Dantas/NE10
Subida José Correia é um paraíso para o Aedes, com muito lixo e moradores desprotegidosFotos: Mariana Dantas/NE10
Um morro dominado, literalmente, pelo mosquito Aedes aegypti. Em todas as casas da escadaria José Correia, na Zona Norte do Recife, moradores sofrem com a chicungunha. “Está todo mundo doente. Nenhuma das 11 pessoas da minha família escapou”, lamenta a doméstica Jaciara Luiz da Silva, 32 anos, que há 15 dias sofre com dores nas articulações. O lixo acumulado ao longo da escadaria, que fica no Córrego da Areia, comunidade do bairro de Nova Descoberta, somado à falta de proteção dos moradores, que não têm dinheiro para comprar repelente, transformaram o local em um verdadeiro paraíso para o mosquito. 

“Sei que a população tem culpa, mas o descaso do governo piora a situação”, afirma o ambulante Maurício Coutinho de Oliveira, 40. As nove pessoas que moram em sua residência estão com sintomas da doença. Ele reclama que a Prefeitura do Recife não faz a limpeza da área e que sua casa não recebeu a visita dos agentes de saúde. Segundo Maurício, a varrição só acontece depois que os moradores telefonam solicitando o serviço. 


No último dia 13 de fevereiro, quando foi promovido o Dia Nacional de Mobilização Zika Zero, agentes do Exército Brasileiro estiveram na comunidade, mas segundo os moradores a ação não foi eficiente. “Os soldados não chegaram a entrar nas casas, apenas na área externa, e nem vistoriaram os terrenos baldios que existem por aqui. Distribuíram panfletos e foram embora. Precisamos de uma ação de fiscalização mais eficiente”, reclama Jaciara.

Para o vigilante José Fernando do Nascimento, 59, a falta frequente de água na comunidade também pode estar colaborando para a proliferação do mosquito, já que muitos moradores precisam armazenar água. “Por isso precisamos de uma melhor fiscalização”, disse. O vigilante e a sua mãe, de 83 anos, estão sofrendo com dores nas articulações e febre alta.
Sujeira toma conta da escadaria
Sujeira toma conta da escadariaFoto: Mariana Dantas/NE10
A situação caótica constatada pela reportagem do NE10 no Córrego da Areia, em Nova Descoberta (em todas as residências abordadas havia pessoas doentes), também está confirmada no mapa de infestação divulgado pela própria prefeitura do Recife, que considera Nova Descoberta como situação de alto risco. O levantamento englobou 77 bairros, classificando 43 deles como situação sob controle, 25 de risco médio, 8 de alto risco e 1 (Alto José Bonifácio - também na Zona Norte) como de risco muito alto.

Ao contrário do que dizem os moradores, a Prefeitura do Recife informou, por meio de nota, que houve intensificação das ações para controle do mosquito, “através do trabalho dos agentes de saúde ambiental e controle de endemias (asaces) e soldados do Exército, entre os dias 25 de janeiro e 5 deste mês. O trabalho incluiu visitas aos domicílios e tratamento dos focos encontrados com larvicida”.

Jaciara sofre com dores no corpo há 15 dias
Jaciara sofre com dores no corpo há 15 diasFoto: Mariana Dantas/NE10
ATENDIMENTO –
 Na Unidade de Pronto Atendimento (UPA) de Nova Descoberta, pacientes disputam cadeiras e até espaço no chão enquanto aguardam o médico. “Desde o início da epidemia dos vírus transmitidos pelo Aedes aegypti (dengue, zika e chicungunha), a nossa emergência está lotada. Usamos as pulseiras de prioridade e os pacientes que chegam com febre alta, vômito ou suspeita de sangramento são rapidamente atendidos. O primeiro exame solicitado é o hemograma, para eliminar o risco de dengue hemorrágica”, explica a médica clínica da unidade Danielly Teles. Segundo ela, em 90% dos casos os pacientes são medicados e orientados para seguir o tratamento em casa. 

Diferentemente de janeiro do ano passado, quando a maioria dos pacientes apresentavam manchas no corpo e febre baixa – sintomas relacionados com a zika -, hoje grande parte dos casos, pelo menos na UPA de Nova Descoberta, é de chicungunha – que apresenta sintomas de febre muito alta e fortes dores nas articulações. 

No último mês de janeiro, foram diagnosticados 284 casos de chicungunha, 200 de dengue e nenhum de zika. Porém, a médica Danielly Teles destaca que os números da UPA de Nova Descoberta não representam a realidade de Pernambuco e que o risco de contaminação da zika ainda é grande. “É notório que em janeiro de 2015 vivemos um surto de zika e hoje de Chicungunha, ao menos na Zona Norte do Recife. Mas o risco de contaminação pelos três vírus continua”.

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