quarta-feira, 17 de fevereiro de 2016

Microcefalia: Pernambuco tem outro caso de um dos gêmeos com anomalia

Após quase seis meses, caso se repete e segue intrigando médicos. Querem entender por que só um bebê tem a malformação congênita

Médicos continuam sem saber como as crianças com microcefalia vão evoluir a longo prazo / Diego Nigro/JC Imagem


Médicos continuam sem saber como as crianças com microcefalia vão evoluir a longo prazo

Diego Nigro/JC Imagem

Já se passaram seis meses desde que nasceu, em Pernambuco, o primeiro bebê com microcefalia que levou neuropediatras a perceberem uma mudança no padrão na ocorrência dessa anomalia, relacionada, até então, a infecções adquiridas na gestação, como toxoplasmose, rubéola e citomegalovírus. O bebê é gêmeo de outro com o tamanho da cabeça normal. Após quase meio ano, o acontecimento se repete: nascem novamente gêmeos que intrigam médicos. “A menina tem microcefalia, e o irmão apresenta o tamanho da cabeça normal. Eles têm um mês e meio de vida e estão em casa”, diz a neuropediatra Ana Van der Linden, sobre os gêmeos de São Lourenço da Mata, na Região Metropolitana do Recife. 
Eles nascem numa fase em que a ciência continua a buscar explicações para o avanço da microcefalia, que tem sido cada vez mais relacionada à infecção pelo zika na gestação. Ontem a Secretaria Estadual de Saúde informou que 34 casos de microcefalia em Pernambuco foram relacionados ao zika por detecção do anticorpo IgM no líquido cefalorraquidiano (LCR), aquele que circula na medula e vai até o cérebro. No Estado, já são 184 bebês com diagnóstico confirmado da malformação desde agosto, quando se iniciaram as primeiras notificações dos bebês com suspeita da anomalia. 
“Passamos a fase do impacto inicial que vivenciamos ao atender os primeiros bebês e entramos numa rotina, embora a gente ainda tenha muitos desafios. Ao longo desses seis meses de acompanhamento dos bebês, vemos mães que apresentam perfis diversos. Enquanto umas se deprimem com a situação, outras apresentam uma conduta em que deixam transparecer que a ficha ainda não caiu”, diz a chefe do Setor de Infectologia Pediátrica do Hospital Universitário Oswaldo Cruz (Huoc), Ângela Rocha. O ambulatório, que já vivenciou surtos de cólera e momentos de alerta em relação ao H1N1 (vírus da influenza), já recebeu 340 bebês com suspeita de microcefalia em seis meses. Desses, 108 tiveram diagnóstico confirmado da malformação. 
“Representamos a unidade que concentra o maior número de casos atendidos. O nosso trabalho é constante. Além de acompanhar os bebês e as famílias, a gente tem se envolvido com pesquisas e palestras. É um envolvimento muito grande com esse contexto delicado. Mas, aos poucos, vamos sedimentando a situação”, diz Ângela Rocha, que confessa inquietar-se com a possibilidade de Pernambuco assistir novamente a uma tendência de aumento dos nascimentos de bebês com microcefalia.
Em dezembro, o Huoc chegou a realizar de 15 a 20 atendimentos por dia para bebês com suspeita da malformação. “Hoje, entre novas consultas e retornos, chegamos a uma média de dez atendimentos diários. Mas pensando que o pico das viroses (como a zika) possa acontecer entre março e maio, fico pensando se teremos mais casos.” Outro pensamento não deixa de ser uma constante entre os médicos: “A longo prazo, continuamos sem saber como as crianças vão evoluir. Muitos detalhes ainda precisam ser estudados, especialmente os fatores que podem estar associados à zika”, diz Ana Van der Linden. 

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